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Policial penal do Paraná realiza pesquisa sobre o trabalho nas prisões na pandemia do coronavírus. Confira a entrevista:


25/05/2020


Uma pesquisa inédita realizada pelo Núcleo de Estudos da Burocracia (NEB), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), entrevistou 299 policiais penais de todo o Brasil e revelou importantes dados sobre a situação atual destes servidores, que estão entre os trabalhos essenciais diante da pandemia do coronavírus. 

Para trazer estas reflexões acerca da pesquisa, entrevistamos o policial penal paranaense lotado na PEL II e pesquisador Carlos Eduardo Lima. Ele integra o Núcleo de estudos da Burocracia, cursa Doutorado em Administração na FGV/EAESP, é Mestre em Administração pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e é formado em Economia também pela mesma universidade.  

Carlos é autor também do artigo Sem home Office para os servidores da linha de frente: o trabalho nas prisões em tempos de pandemia,” que escreveu juntamente com a Professora Dra. Gabriela Lotta, coordenadora da pesquisa e do Núcleo de Estudos da Burocracia.

 

Confira a entrevista:

 

1) Como a pesquisa foi realizada junto aos policiais penais e quais foram os principais objetivos?

Essa pesquisa foi organizada por meio de questionários (método Survey) enviados por grupos de whatsapp, e-mails e blogs. O objetivo foi o de compreender a percepção dos principais atores envolvidos no tratamento penal diante da pandemia. Foi uma curiosidade trazida pela Professora e coordenadora da pesquisa Gabriela Lotta, da FGV. Ela é especialista no que chamamos de burocratas de “nível de rua”, que são todos os profissionais que estão na linha de ponta de execução de políticas públicas.

Então contempla, por exemplo, os policiais penais que estão na linha de ponta das políticas de segurança, os agentes de endemia que são os da linha de ponta de políticas públicas para área da saúde e os professores, na educação.  

Os questionários foram respondidos por 299 policiais penais de todas as regiões do país e a nossa análise nesta fase foi de cunho quantitativo.

 

2) Quais os principais problemas destacados nas respostas no que se refere às condições de trabalho e a pandemia do coronavírus?

Detectamos que os principais problemas citados pelos policiais penais estão relacionados à falta de informações e também a presença ou não da oferta de EPIs, assim como também insegurança com relação às licenças para os que integram os grupos de risco.  

 

3) Diante dos problemas destacados, quais os principais entraves que surgem, em sua análise como policial e pesquisador, para que se ofereçam melhores condições de trabalho?

Um problema que já assola mesmo anteriormente à pandemia do coronavírus que é a falta de efetivo. As pressões que os agentes sofrem e vão passar a sofrer com maior peso a partir de agora é com relação ao número de baixas que podem vir das licenças dos que são grupos de risco e baixas que possam ocorrer em função à COVID19.  Vai agravar um problema que já é existente há muito tempo.

 

4) Como os policiais penais se sentem diante deste cenário da pandemia?

A primeira percepção que a pesquisa nos trouxe é que a maioria se sente despreparada.

Dados como, 91,35% afirmam não ter recebido algum tipo de treinamento para lidar com a situação. Mais da metade dos entrevistados afirma não ter recebido EPIs e os que receberam não sabem manusear corretamente. 

Mais de 70% dos que responderam afirmara não ter recebido suporte do estado ou de seus superiores para enfrentar a crise.

Importante aqui ressaltar o trabalho do SINDARSPEN que vem buscando parcerias com Universidades para trazer EPIs e tecnologias para ajudar na prevenção ao coronavírus.

 

5) Você, como policial penal e pesquisador da própria realidade de trabalho, o que acha que falta acontecer para que haja valorização do trabalho do policial penal?

 Tudo o que está relacionado à prisão e contato com os presos, a sociedade atual reconhece como de menor valor. E, assim, passamos a ter nosso valor diminuído.

A percepção de que o policial penal é um ator importante está associado ao papel de ressocialização dos presos. Porém, com a situação de sucateamento do sistema penitenciário, com a falta de efetivo, de reajuste salarial, de equipamentos, ameaças, rebeliões, o que nos sobra a fazer, além das milhões de funções que executamos diante de sermos poucos, é garantir o mínimo de segurança para a sociedade. Não sobrando, portanto, tempo e qualidade para exercer a função de ressocialização. Quando a sociedade olha para o policial penal e cobra por este papel, ela precisa reconhecer toda a situação precária do seu trabalho.  

 

 6) No artigo escrito por você e a coordenadora da pesquisa, a professora Gabriela Lotta, vocês sugerem algumas medidas que deveriam ser tomadas pelos governos. Pode citá-las?

 

  • Buscar junto às demais secretarias e atores públicos desenvolver políticas intersetoriais que visem à prevenção antecipada da contaminação;
  • Os números de detecção entre os presos do Distrito Federal só foram possíveis devido aos testes em massa realizados na população carcerária, logo, a mesma atenção deve ser dada aos demais presídios do país;
  • Distribuir e acompanhar o uso de equipamentos de segurança individual de qualidade e em quantidade satisfatórias para os profissionais que realizam contato com os presos;
  • Avaliar a possibilidade de alteração de rotinas de trabalhos e horários no período da pandemia no intuito de reduzir o trânsito de agentes entre as unidades e meio externo;
  • Viabilizar alternativas que possibilitem o isolamento dos policiais penais contaminados para que não haja contaminação do trabalho pra suas famílias e vice versa.