Na Câmara dos Deputados, SINDARSPEN rechaça projeto que visa privatização do trabalho dos policiais penais no Brasil

Diretor do SINDARSPEN e da Ageppen-Brasil participou de audiência pública realizada pela CCJ da Câmara dos Deputados. Resolução do Governo do Paraná que quer privatizar funções dos policiais penais no estado também foi abordada pelo especialista

Publicado em 17/05/2022



É preciso criar uma grande resistência nacional a esse projeto. Esse foi o clamor do representante do SINDARSPEN e da Associação dos Policiais Penais do Brasil (Ageppen-Brasil), José Roberto Neves, na audiência pública realizada na manhã desta terça-feira (17), pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, para discutir o projeto de lei 2694/2015, voltado à privatização nos estabelecimentos penais.

Em sua fala, Neves destacou que se trata de um projeto antigo, de 2015, que é incompatível com o momento em que vivemos, já que no final de 2019 o Congresso Nacional promulgou a Emenda Constitucional 104, que reconheceu a Polícia Penal na carta magna do país, transformando essa atividade em típica do Estado, como as demais da segurança pública previstas no Art. 144 da Constituição Federal.

O líder sindical ressaltou que é preciso discutir as funções legítimas da Polícia Penal e não a terceirização. “É preciso discutir não o que não é função da Polícia Penal, mas definir o que são as funções desses agentes públicos. Como vamos definir o que não fazemos, se não temos definido o que fazemos? Que seja desarquivado o projeto do Capitão Alberto Neto, que trata da nossa regulamentação. É preciso rechaçar por completo esse projeto de terceirização debatido hoje nesta casa”, defendeu Neves.

A crítica à terceirização do projeto em debate foi acompanhada por quase todos os demais debatedores que participaram da audiência. O evento teve a participação de representantes de entidades classistas de policiais penais, do Ministério Público, de governos estaduais, de entidades que atuam em ciências criminais, e do Departamento Penitenciário Nacional (Depen).

Paraná dá primeiros passos para a terceirização

O projeto de lei 2694/2015, debatido hoje na Câmara dos Deputados, já vem alimentando a sanha privatista nos estados. No Paraná, mesmo antes de um projeto da Lei Orgânica que regulamente a atividade da Polícia Penal, recém incluída na Constituição Estadual, uma resolução conjunta da Secretaria de Segurança Pública (SESP) e da Secretaria de Administração (SEAP) cria uma Comissão para tratar da licitação para a privatização dos serviços penitenciários, com a contratação para postos de trabalho de uma função que nem mesmo existe no organograma do Estado, de Monitor de Ressocialização Prisional.

Segundo a Resolução n° 007/22, publicada no Diário Oficial na última sexta-feira (13), esse trabalhador terceirizado terá função operacional e administrativa, sem nem mesmo haver a regulamentação das atividades dos Policiais Penais no estado. O Governo do Estado ainda não apresentou qual será o trabalho exato desse “monitor de ressocialização prisional” mas pela sintética descrição na resolução, dá para entender se tratar de alguém que atuará na movimentação interna das unidades penais, afrontando a Emenda Constitucional 104/2019.

Tentativa similar ocorreu em Goiás, onde o estado criou um tal "vigilante penitenciário" para fazer o trabalho dos policiais penais. A iniciativa goiana foi questionada pela Ageppen-Brasil no Supremo Tribunal Federal, já tendo parecer da Procuradoria Geral da República (PGR) pela inconstitucionalidade da medida. A questão aguarda agora julgamento do STF.

No Paraná, o SINDARSPEN já está fazendo os estudos jurídicos para buscar barrar essa tentativa de terceirização das atividades dos policiais penais no estado.

A falta de servidores para atuar nas unidades penais paranaenses é um dos maiores problemas do sistema penitenciário no estado e o Sindicato seguirá defendendo que essa questão seja enfrentada dentro do que determina a Constituição, com a realização de concurso público para a área, e não com remendos que atacam os direitos dos servidores e aumentam os riscos não apenas no ambiente prisional, mas em toda a segurança pública.

Confira a íntegra da defesa feita por José Roberto Neves na audiência pública na Câmara Federal.