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8 de Março: o que querem as mulheres que trabalham no sistema penitenciário?


07/03/2017


“Trabalhamos num sistema onde o espaço das mulheres é muito reduzido, onde as nossas demandas são quase sempre ignoradas, onde a nossa autoridade é quase sempre questionada”. A declaração da presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná, Petruska Sviercoski, sobre a situação das mulheres que trabalham no sistema penitenciário do Paraná revela como se sentem muitas servidoras da categoria.
 
Apesar de já significarem 10% do total de agentes penitenciários no estado, as mulheres que atuam na profissão ainda sofrem com descaso pelas suas necessidades de gênero. Um exemplo é a situação da Penitenciária Feminina do Paraná (PFP), em Piraquara, onde apenas uma das cinco galerias possui banheiro para as agentes. “Agora, você imagina a situação quando estamos menstruadas, por exemplo. Pra fazer uma simples troca de absorvente é uma operação, já que a gente não pode largar o posto de trabalho sem ninguém e todo mundo sabe como está a situação da falta de efetivo, né?”, reclama a servidora Eliene Medida.
 
Se, na saída para ir ao banheiro, acontecer algum incidente na galeria, a agente responsável pelo posto ainda pode responder a um Processo Administrativo Disciplinar (PAD). No plantão noturno da PFP, apenas cinco servidoras trabalham para dar conta das cerca de 430 presas na unidade. Outras duas ficam uma na portaria e outra, na guarda da creche. Durante o dia a situação não é pior porque existem cerca de 9 agentes contratadas em regime de PSS para reforçar a equipe de 11 efetivas por plantão.
 
A falta de respeito às especificidades de gênero tem ocasionado uma série de irregularidades no Centro de Reintegração Social Feminino (CRESF), em Foz do Iguaçu. Improvisada para abrigar mulheres condenadas, a unidade está dentro de uma área destinada a presos masculinos, ferindo a Lei de Execução Penal e pondo em risco trabalhadoras e detentas. Pela condição de improviso, o CRESF apresenta uma série de problemas de segurança, como má iluminação e altura do muro. “Essa situação tem feito aumentar os casos de invasões de estranhos na unidade por causa da falta de segurança, o que coloca em risco a vida das agentes, que trabalham desarmadas”, conta a diretora do SINDARSPEN em Foz, Vanderleia Leite.
 
O medo de ataque dentro da unidade também acompanha as servidoras da PFP. “De vez em quando temos invasão aqui de pessoas armadas de madrugada que vêm trazer celular e droga pras presas. E o que nós vamos fazer em cinco mulheres pra dar conta de toda a penitenciária num plantão noturno?”, desabafa a agente Cíntia Barreto, que também atua na direção do sindicato.
 
O SINDARSPEN já denunciou a situação dessas unidades para a Secretaria de Segurança Pública e aguarda uma solução.
 
Nas unidades masculinas (29), as mulheres executam funções como monitoramento, revista de visitas e fiscalização de sacolas. Nas unidades femininas ou mistas (4), elas fazem também a custódia das presas.
 
Estrutura precária
 
Outra situação delicada ainda vivida por muitas agentes no Paraná é ocasionada pela falta de equipamentos body scan para fazer a revista nas visitas dos presos. Em todo o estado existem apenas cinco aparelhos, que atendem a dez unidades penitenciárias em Cascavel, Foz do Iguaçu, Londrina e na Região Metropolitana de Curitiba.  Em todas as outras ainda são realizadas revistas corporais, com a utilização de equipamentos como raquetes e portais detectores de metais.
 
No entanto, nas unidades onde não há o equipamento necessário, as mulheres que vão ver os presos ainda são submetidas a revistas íntimas, ficando completamente despidas e agachando três vezes, enquanto as agentes observam se não há nada escondido em seu corpo ou roupas. “Apesar da gente acabar meio que acostumando com a função, ainda acho constrangedor fazer essas revistas manuais. A gente precisava ter aparato pra não ter que fazer assim”, comenta a agente da Penitenciária Estadual de Cruzeiro do Oeste (PECO) Alexandra Robskievicz, há 10 anos no sistema.  
Segundo Departamento Penitenciário, até o final do ano serão locados mais 14 equipamentos para atender as demais unidades.
 
Falta de oportunidades e de crescimento na carreira
 
No sistema penitenciário do Paraná ainda são raros os casos de mulheres em cargos de chefia. Na CRESF, por exemplo, apesar de ser uma unidade feminina, a direção é composta por servidores do sexo masculino, dificultando a garantia da intimidade das mulheres no local.
 
“É como se duvidassem da nossa capacidade. Embora haja muitas agentes competentes e capazes para assumir chefia no sistema, parece que o governo ainda vê as mulheres apenas para fazer revistas”, reclama a presidente do SINDARSPEN.
 
O machismo diário
 
Como em quase toda profissão dominada por homens, ainda é comum que as mulheres que atuam no sistema penitenciário sejam vítimas de atitudes e comentários machistas. E muitas vezes, eles vêm dos colegas, que pensam estarem apenas brincando. O que muitos não percebem é que algumas “brincadeiras” são ofensivas às mulheres. “Hoje eu me sinto muito mais tranquila em trabalhar numa unidade feminina. Há muitas brincadeiras incômodas e, muitas vezes, desrespeitosas que vêm dos colegas nas unidades masculinas”, diz a agente da PFP Giulina Iarrocheski, há 4 anos de sistema.
 
Para a presidente do SINDARSPEN, esse comportamento é reflexo da sociedade, mas também, resultado da falta de igualdade ainda muito forte dentro do sistema. “Precisamos ter mais mulheres no comando, nas chefias. Precisamos construir essa relação de igualdade no sistema penitenciário. As mulheres precisam ser vistas como pessoas capazes e competentes, nosso trabalho é também essencial à segurança e, às vezes, parece que isso não é considerado”, defende Petruska.
 
Para auxiliar no combate a essas atitudes, por ocasião do Dia Internacional da Mulher, o SINDARSPEN lançou uma campanha de comunicação pela valorização das mulheres no trabalho e no ambiente doméstico. “Na nossa categoria, ainda é tabu conversar sobre essas coisas, mas precisamos quebrar essa barreira, de forma que possamos ter um ambiente com cada vez mais respeito e igualdade para todos”.

Foto: Joka Madruga

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Tags: mulheres